Paulo Bezerra tinha 14 anos quando ganhou do pai o primeiro cd de rock. Scorpions foi o grupo que incentivou o jovem, quatro anos depois, a reunir os amigos do colégio e montar uma banda. O estúdio era uma oficina de carros às margens da BR 232, em Serra Talhada. “Usávamos os instrumentos de pagode de um outro colega. Essa foi a primeira tentativa, mas, não deu certo”, conta.
Três anos se passaram e Paulo novamente convocou os companheiros da garagem e formou a Doppamina. Foi o renascimento do rock amador na cidade. “Há mais de vinte anos existia uma banda chamada D’Gritos. Ela trouxe o rock para Serra. Em pouco tempo, o vocalista morreu após um choque elétrico no palco. E aí o movimento perdeu força”, lembrou.
A cidade de Lampião passou a dar continuidade ao trabalho do D`Gritos. Nos últimos três anos, foram realizados festivais e encontros alternativos. O Festival Pernambuco Nação Cultural promoveu, ontem, mais uma oportunidade para as bandas de garagem do Estado. Os shows aconteceram no pátio da antiga Estação do Forró. Paulo, que agora também é baterista da No Sense, se apresentou com seus dois grupos e ainda com a Kaêra, também de Serra. Participaram do Encontro de Bandas de Garagem, em Serra Talhada, as bandas Metal Milícia, de Afogados da Ingazeira; Andranjos, de Petrolina, e Combo Percussivo, projeto paralelo recifense criado pelo integrante do Nação Zumbi Gilmar Bola 8.
A chegada de um campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Serra, era o incentivo que faltava para o retorno do movimento. Segundo o estudante de Ciências Biológicas Luís Pedro Filho, a maioria dos jovens não tinha acesso a outros gêneros, além dos populares. “A universidade abriu a mentalidade dos mais novos, monstrando que era possível misturar os ritmos. E ela mesmo promove muitas festas para isso”, conta.
Está enganado quem pensa que as danças do cangaço ficam esquecidas quando o rock começa a tocar. A popularidade do gênero no Sertão não é sinônimo de desvalorização da cultura sertaneja. O guitarrista da banda Andranjos, Joci Junior, busca nos artistas locais a inspiração para as músicas. “Cresci escutando Zé Ramalho, Alceu Valença, Nação Zumbi, além de xaxado, coco, ciranda e maracatu. Encontro neles o caminho para unir o rock com as minhas raízes”, ressalta.
- Fonte: Fundarpe
0 comentários:
Postar um comentário